Blog da Cidha Cunha

segunda-feira, 27 de junho de 2016

LUCÍOLA (Resumo)


LUCÍOLA (JOSÉ DE ALENCAR)


Resumo:
Romance urbano de José de Alencar, Lucíola é a primeira obra da trilogia que o autor denominou “perfis de mulheres”, composta também por Diva Senhora. Narrada em primeira pessoa por Paulo Silva, a história se passa no Rio de Janeiro e tem início no ano de 1855. A obra relata a relação entre Lucíola, uma cortesã de luxo, e Paulo, um jovem pernambucano que fora para a capital fluminense a fim de conhecer a Corte.
Em seu primeiro passeio pela cidade, Paulo conhece Lúcia, cujo carro havia parado na Rua das Mangueiras. Desconhecendo sua verdadeira profissão, o rapaz vê na cortesã uma moça meiga e angelical, por quem logo se encanta. Dias depois, na companhia do Dr. Sá, Paulo reencontra Lúcia na festa de Nossa Senhora da Glória. Dr. Sá revela ao amigo que aquela “linda moça” era na verdade Lucíola, “a prostituta mais bela da cidade”, mas Paulo mantém em seu coração a imagem angelical que construíra no primeiro encontro.
Ainda encantado, o rapaz descobre o endereço de Lúcia e resolve visitá-la. Depois de uma longa conversa, ele percebe certo pudor na cortesã, o que o leva a duvidar se ela era mesmo quem diziam ser. Intrigado, Paulo comenta o ocorrido com Dr. Sá, que confirma sua versão e lhe garante que ela só se entregaria se ele lhe desse muito dinheiro.
No dia seguinte, Paulo retorna à casa de Lúcia, que derrama algumas lágrimas ao ser assediada. Irritado com aquele gesto, ele diz à cortesã que ela não deveria esperar cortejos, pois ele já sabia quem ela era. Lúcia, então, entrega-se completamente ao rapaz, que fica perplexo diante daquela mulher ardente e desfigurada. Antes de ir embora, Paulo tenta pagar o programa, mas ela não aceita, deixando o jovem confuso com “a singularidade daquela cortesã, que ora levava a impudência até o cinismo, ora esquecia-se do seu papel no simples e modesto recato de uma senhora”.
Algum tempo depois, após sair de uma apresentação de ópera, Paulo vai a uma festa na casa de Sá, onde Lucíola e uma amiga fariam uma apresentação particular para os convidados. Ao perceber a presença de Paulo, a cortesã se diz despreparada, sendo, então, questionada se estaria apaixonada. Diante da risada de deboche do jovem pernambucano, ela assume seu lado “Lúcifer” e começa a dançar sobre a mesa e a despir-se, imitando as poses das mulheres nuas retratadas nos quadros que estavam nas paredes.
Vendo naquela mulher Lucíola, a cortesã mais cobiçada do Rio de Janeiro, e não Lúcia, a bela jovem por quem se encantara, Paulo se irrita e foge para o jardim. A cortesã, arrependida, vai ao seu encontro e explica que tomara aquela atitude por desespero, já que ele havia zombado dela, e garante a Paulo que o ama. A partir daí os dois passam a se encontrar diariamente e Lúcia decide dedicar-se inteiramente a esse amor. Como prova de seus sentimentos, vende sua luxuosa mansão e vai morar em uma casa mais simples com Paulo, sob as críticas da sociedade, que passa a comentar que ele vivia às custas da cortesã.
A explicação para o comportamento contraditório de Lúcia – ora anjo, ora demônio – estava em seu passado, que ela resolve revelar ao companheiro.  Na realidade, não se chamava Lúcia, e sim Maria da Glória. No ano de 1850, quando contava com apenas 14 anos, toda a sua família foi atingida por um surto de febre amarela, o que fez com que ela se deixasse levar pelo vizinho Couto, trocando sua inocência por algumas moedas de ouro. Com esse dinheiro, queria comprar os medicamentos necessários para o tratamento da doença.
Quando soube da origem do dinheiro, porém, seu pai a expulsou de casa, e a partir daí ela se passou por morta, pegando emprestado o nome de uma amiga que falecera de verdade. Sozinha, sem ter para onde ir, Maria da Glória (agora Lúcia) foi acolhida por Jesuína, que logo a conduziu à prostituição. Depois da morte de seus pais, com o dinheiro arrecadado, Lúcia passou a pagar os estudos de sua irmã Ana.
Conhecendo a história de sua amada, Paulo passa a compreendê-la melhor. Lúcia, então, deixa de lado os ares de cortesã, entregando-se de fato ao relacionamento que mantinha com o pernambucano.
Depois de algum tempo, Ana vai morar com a irmã e o cunhado e acaba se apaixonando por Paulo. Percebendo esse sentimento e pressentindo que sua morte não tardaria, Lúcia o incentiva a se casar com Ana, mas ele não aceita. Grávida, ela fica desesperada, pois considera seu corpo impuro para gerar uma vida, e acaba sofrendo um aborto. No entanto, recusa-se a tomar remédios para expelir o feto, afirmando que serviria de túmulo para seu filho. No leito de morte, ela pede a Paulo que cuide de sua irmã como se fosse uma filha, e, feito o pedido, falece nos braços do marido. Passados seis anos da morte de Lúcia, Ana se casa com um homem de bens e Paulo continua triste com a morte do único amor de sua vida.
Durante a narrativa, percebe-se a transformação da cortesã em heroína: Lucíola, que inicialmente se considerava indigna do amor de Paulo por possuir um corpo sujo e vergonhoso, resolve se entregar a esse amor, através do qual purificaria sua alma.
A redenção de Lúcia culmina com a descoberta de sua gravidez e não aceitação dela. Mesmo com o melhor parteiro afirmando que a criança em seu ventre estaria viva, Lúcia acredita que seu corpo é sujo e morto, e por isso não é capaz de gerar um filho. Morre, grávida. Paulo, atendendo a um pedido seu, cuida de Ana até que ela se case.

Importância do livro
Lucíola, ficção urbana de Alencar publicada em 1862, possui uma crítica da sociedade. Crítica esta que não se faz apenas através do relato do narrador, mas como também está presente indiretamente através das atitudes e valores mostrados pelos personagens. Lucíola apresenta uma transgressão à visão romântica da mulher amada – Lúcia não é submissa, ao contrário, é excêntrica e com vontades. Porém, no desfecho, apresenta atitudes tipicamente da visão romântica, e seu ápice acontece na morte de Lúcia, tendo em vista que não há salvação para uma mulher cortesã, a não ser a morte. 
Período histórico
Na segunda metade do século XIX, a sociedade burguesa brasileira é marcada por costumes enraizados e de aparências, onde a mulher deveria ser pura e o homem ser cortês. Alencar, diferente de outros autores da mesma época, apresenta sua visão crítica através de suas obras literárias, e por isso é atacado pelos críticos da época.

ANÁLISE
A obra Lucíola se enquadra nos chamados romances urbanos de Alencar, onde o cotidiano e os costumes de uma sociedade burguesa são relatados. Na literatura desse momento, a figura principal do Romantismo deixa de ser o índio, a natureza, e passa a ser o povo, com suas mazelas e suas virtudes, procurando reafirmar o recente independente país. 
O narrador Paulo é também um dos personagens principais. Porém, a obra peculiar de Alencar possui um narrador que não apresenta uma visão crítica em relação aos acontecimentos. Ao decorrer da narração, Paulo parece reviver a emoção dos momentos que teve com Lúcia. A narração feita em primeira pessoa torna-se assim limitada, uma vez que parte sob a perspectiva pessoal de Paulo. Ou seja, não há o distanciamento dos fatos enquanto narrador. Além disso, como estratégia do autor, a história entre Lúcia e Paulo é contada através de uma carta entregue à senhora G.M. para que Paulo não levasse a culpa de publicar o romance e ser mal visto por se envolver com uma cortesã, diante de uma sociedade preconceituosa. Ele também se revela preconceituoso, pois se recusa a contar a sua história. 
De outro lado, há Lúcia. A Cortesã é cobiçada pela sua beleza e vive numa sociedade que a julga preconceituosamente, até encontrar Paulo, o único capaz de enxergar além das aparências. Já no primeiro encontro, Lúcia diz que ele a purificou com seu olhar e, a partir das visitas de Paulo, ela se distancia cada vez mais da vida de cortesã e se reaproxima de sua origem, enquanto Maria da Glória. Nessa dualidade de Lúcia, podemos enxergar a dicotomia entre os valores cristãos, de pureza, calma, bondade, e os valores do mundo da libertinagem. A personagem busca a autopiedade e o esquecimento do seu passado, porém não consegue, uma vez que a sociedade não perdoa seus atos. Sendo assim, não existiria alternativa para o desfecho e salvação de Lúcia, a não ser a morte.

PERSONAGENS
Lúcia: cortesã rica que é conhecida por todos como bela e excêntrica. Maria da Glória é seu nome de batismo. Ao decorrer do livro, busca seu autoperdão através do amor que tem com Paulo. Apesar disso, não consegue o perdão diante da sociedade do seu passado de cortesã. Morre no final, grávida.
Paulo: confuso entre o sentimento por Lúcia e os preconceitos que há na sociedade. Ao longo do livro também sofre uma transformação; passa de um homem boêmio a um homem de negócios. Escreve uma carta à senhora G.M. contando sua história com Lúcia.
Sá: amigo de infância de Paulo e ex-amante de Lúcia, ele quem apresenta os dois. Milionário e solteiro, é o típico homem burguês. Dá festas em sua casa e representa o preconceito da sociedade burguesa diante da impossibilidade de haver perdão aos atos de Lúcia.
Cunha: amigo de Paulo e ex-amante de Lúcia. Ela o deixou no dia em que viu sua mulher sozinha, triste.
Couto: foi o primeiro cliente de Lúcia. Responsável por oferecer dinheiro a ela, em troca de favores sexuais, quando Lúcia tinha apenas 14 anos.
Rochinha: na roda de amigos boêmios, é o mais novo, com 17 anos, e o mais inexperiente. Porém, tem uma vida irrigada por bebidas alcoólicas. 
Laura: uma das prostitutas que participaram da festa na casa de Sá.
Nina: uma prostituta que se interessou por Paulo, com quem chegou até a marcar um encontro, que não acontece.
Jesuína: Quando Lúcia foi expulsa de casa por seus pais, foi morar com Jesuína. Mais tarde, ela aparece como suposta enfermeira na casa de Lúcia. 
Ana: Com 12 anos e irmã mais nova de Lúcia, vai morar com ela no interior. Possui traços muitos semelhantes aos de Lúcia. Quando Lúcia falece, fica sob responsabilidade de Paulo, e no final do livro casa-se.

Sobre o autor

José de Alencar
✩1 de Maio de 1829
          ✞12 de Dezembro de 1877
José Martiniano de Alencar foi um escritor e político brasileiro. É notável como escritor por ter sido o fundador do romance de temática nacional, e por ser o patrono da cadeira fundada por Machado de Assis na Academia Brasileira de Letras. Nasceu no dia 1 de Maio de 1829 na cidade de Fortaleza CE.

Veio com sua família para o Rio de Janeiro em 1830 e com 14 anos mudou-se para São Paulo. Além de escritor, foi político, advogado e jornalista. Longe da vida boêmia comum aos homens da segunda metade do século XIX, dedicava grande parte de sua vida à literatura. Tornou-se um dos maiores romancistas de nossa literatura. Além de Iracema, possui grandes clássicos, como Cinco Minutos, O Guarani, A Viuvinha, Lucíola, O gaúcho, Senhora, entre outros. Em sua obra podemos notar traços da realidade da sociedade brasileira daquela época, e oposições como o branco e o índio, as cidades e o sertão. Faleceu em 12 de dezembro de 1877 .


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