Blog da Cidha Cunha

quarta-feira, 18 de abril de 2012

O PRIMO BASÍLIO (Resumo)


O PRIMO BASÍLIO (EÇA DE QUEIRÓS)



Resumo:
Lançada em 1878, a obra O Primo Basílio, de Eça de Queirós, relata a envolvente história de Luísa e seu primo Basílio. Casada com o engenheiro Jorge, Luísa vivera, nos primeiros anos de casamento, uma união feliz. Com o passar do tempo, porém, a rotina foi esfriando o relacionamento entre os dois, que se afastaram ainda mais com a notícia de que Jorge viajaria a trabalho para a cidade de Alentejo. No dia da viagem, Luísa lê no jornal, logo cedo, que seu primo Basílio estava retornando a Lisboa, e lembra-se de que ele havia sido seu primeiro amor.
Quando ainda morava em Portugal, Basílio era um homem rico, mas desperdiçara toda a sua riqueza e decidira reconstruir sua vida e fazer fortuna em terras brasileiras. Já no Brasil, rompera com Luísa por meio de carta, o que a deixara bastante infeliz, mas com o passar do tempo ela conheceu Jorge e acabou se casando.
Com a viagem do marido, Luísa passa a ficar sozinha com Joana, a cozinheira, e Juliana, uma empregada com quem ela não se relacionava muito bem, mas que aceitava em sua casa devido à gratidão que seu marido tinha com a jovem, já que esta havia cuidado de sua tia por algum tempo. Alguns dias depois da partida de Jorge, porém, a moça recebe a primeira visita de seu primo Basílio, e a partir de então as visitas se tornam cada vez mais frequentes, até que ele resolve declarar seu amor a Luísa. Inicialmente, Luísa o censura, mas a ausência do marido e as lembranças do passado a fazem ceder e retomar seu relacionamento com o primo.
Antes de viajar, Jorge havia pedido a seu vizinho, Sebastião, que cuidasse de Luísa, e como as frequentes visitas de Basílio estavam gerando comentários maldosos na vizinhança, Sebastião resolve alertá-la. Para eliminar o falatório, então, o casal transfere os encontros para outro lugar, que chamam de “paraíso”.
Desconfiada da traição da patroa, Juliana, que se sentia injustiçada por não ter recebido nada pelo período em que cuidara da tia de Jorge, resolve espionar Luísa para certificar-se do adultério, e os frequentes encontros entre os primos permitem que a empregada reúna provas suficientes da traição. Certo dia, Juliana mostra a Luísa as cartas que havia guardado e que compravavam o adultério, deixando a patroa desesperada.
Preocupado com a situação, Basílio resolve romper com a amante e ir embora, sob o argumento de que precisaria voltar a Paris para resolver alguns negócios. Antes de partir, ele pergunta à prima quanto Juliana estava pedindo pelas cartas, mas Luísa, revoltada com o amante, afirma que resolveria o problema sozinha.
Sem outra opção, Luísa tenta negociar com a empregada, que lhe pede seiscentos mil contos de réis em troca das cartas. Desesperada, a moça pensa em pedir ajuda ao vizinho Sebastião, mas acaba desistindo da ideia. Sem dinheiro para pagar a quantia solicitada, Luísa começa a agradar a empregada, dando-lhe vários presentes. Juliana ganha um quarto melhor, lençóis de linho, um bom colchão e uma cômoda cheia de roupas. Além disso, a patroa passa a fazer os serviços domésticos no lugar da empregada.
Passados mais alguns dias, Jorge retorna de viagem e só então Luísa percebe o quanto ama o marido, que não consegue compreender o que está acontecendo em sua casa. Angustiada, Luísa pede ajuda a sua amiga Leopoldina, a quem conta sobre a traição. Leopoldina sugere à amiga que procure Castro, um homem que sempre fora apaixonado por Luísa e que, diante de seu pedido, não hesita em emprestar-lhe o dinheiro. Percebendo as investidas e a intenção do homem de se aproveitar da situação, porém, Luísa o coloca para fora e acaba ficando sem a quantia exigida por Juliana.
Em casa, Jorge observa a comodidade da empregada e fica intrigado com a maneira com que a esposa insiste em defender Juliana. Luísa alega que a empregada faltara tantas vezes ao trabalho por motivo de saúde, mas, insatisfeito com a desordem da casa, Jorge decide despedi-la. Aos prantos, a patroa pede que ela não faça escândalos, garantindo-lhe que daria um jeito de resolver a situação.
Luísa recorre, então, a Sebastião, a quem conta toda a confusão. O amigo pede a Luísa que o deixe sozinho com Juliana, e para atender ao pedido do vizinho, Luísa convida Jorge para ir ao teatro.
Aproveitando a ocasião, Sebastião vai até a casa de Jorge acompanhado de um policial e exige que a empregada entregue as cartas comprometedoras, sob pena de ser presa. Nervosa, com a saúde frágil e as cartas nas mãos, Juliana cai morta no chão. Quando os donos da casa chegam, Sebastião diz que fora até lá porque ouvira os berros de Juliana, que gritava por ter sido demitida.
No dia seguinte, Luísa amanhece com febre. Aos poucos começa a melhorar e conhece Mariana, a nova empregada. As coisas na casa de Jorge parecem ter voltado ao normal, mas Luísa recebe mais uma carta de Basílio, que acaba sendo lida por seu marido. Na carta, Basílio respondia ao pedido de Luísa, que, arrependida por não ter aceitado a ajuda do primo, solicitara-lhe dinheiro para pagar Juliana. Na mesma carta Basílio declarava amor à prima e lembrava as noites que os dois haviam passado no “paraíso”.
Ao descobrir a traição da esposa, Jorge começa a tratá-la com indiferença. Luísa, ainda fraca, recebe a carta das mãos de Jorge e desmaia. Desmascarada, ela vê sua saúde piorar. Jorge percebe que a esposa está partindo e lhe dá um beijo, perdoando sua traição. Luísa, porém, não resiste à febre cerebral e acaba falecendo.
Após a morte de Luísa, Basílio volta a Lisboa para finalizar alguns negócios. Ele procura pela prima, mas encontra a casa fechada – depois da morte da esposa Jorge passara a viver com o vizinho Sebastião. Informado sobre a morte da prima, Basílio recebe a notícia com indiferença, concordando com a opinião do amigo que o acompanha de que Luísa pouco valia. Ele volta, então, ao hotel em que se hospedara, lamentando por não ter trazido uma amante de Paris.

Importância do livro
Escrito em um momento de consolidação da escola realista-naturalista em Portugal, O primo Basílio se apresenta como uma verdadeira súmula de alguns dos recursos mais característicos do estilo: a crítica social, a exploração da sexualidade, a tendência à construção de personagens marcadas pela baixeza de caráter, a narrativa irônica, as referências pouco lisonjeiras à moral, aos costumes e à religião. 
Período Histórico
Eça pertence à chamada geração de 70, constituída pelos escritores que combateram o romantismo e lutaram pela instauração das ideias realistas em Portugal, a partir de 1870, propondo uma literatura de crítica social e de denúncia do atraso lusitano.

ANÁLISE
O principal alvo de Eça de Queirós em O Primo Basílio é o romantismo. A protagonista Luísa é uma vítima do excesso de fantasias românticas, que acaba por distanciá-la da realidade. A consequência mais grave dessa alienação possui componente moral: Luísa se torna incapaz de discernir valores morais, confundindo amor com desejo, paixão com vulgaridade.  
A obra evita sistematicamente o caminho fácil da idealização, expondo ácidas críticas à burguesia provinciana de Lisboa. Essas críticas são encarnadas nas personagens, que se tornam, desse modo, representações estereotipadas de comportamentos que a narrativa expõe ao ridículo. Em D. Felicidade, Eça descarrega sua crítica ao que chama de “beatice parva”: mulheres que manifestam uma religiosidade que estão longe de seguir ou exemplificar. A visão ácida é amplificada por uma nota naturalista: D. Felicidade sofre de gases.  
A mediocridade, o conservadorismo e o amor às aparências do Conselheiro Acácio deram origem a um novo adjetivo na língua portuguesa: acaciano. O infeliz Jorge é ridicularizado sem piedade pelo narrador: a frieza que sempre manifestou é substituída, no final, pela pieguice do sofrimento provocado pela morte da esposa. A suscetibilidade de Luísa chega quase a destituí-la de humanidade, reduzindo-a à condição de fantoche manuseado pelas circunstâncias.  
Juliana, cuja personalidade é sacudida por frustrações de caráter sexual, físico e social, canaliza seu ódio não para um projeto social transformador, mas para a compensação de seus recalques pessoais. Sebastião, exemplo de bom caráter, tem suas virtudes colocadas em destaque, por contraste com a lama generalizada. 
O romance faz propaganda explícita das principais linhas de força do projeto realista-naturalista. O determinismo mesológico aparece na influência que o meio ambiente decadente e apático exerce sobre as personagens, tornando-as indolentes e favorecendo o domínio do apetite sexual. O final feliz romântico é substituído pelo triunfo da canalhice, na trajetória de Basílio, o vilão imune a qualquer punição. Por fim, a abordagem das relações entre patroa (Luísa) e empregada (Juliana) evita a glamourização e evidencia a desconsideração da primeira e a falta de escrúpulos da segunda. 
Do Realismo, a romance apresenta a crítica ao atraso e ao provincianismo português. Do Naturalismo, a sexualização do enredo e a redução das personagens à condição animal, de cego domínio dos instintos. Eça de Queirós mostra no romance as qualidades de grande estilista que o acompanhariam até o fim da carreira: a linguagem irônica destila acidez na maneira de focalizar o atraso português, que ele demoraria a perdoar.


Personagens:
Luísa: Representa a jovem romântica, inconsequente nas suas atitudes, a adúltera.
Jorge: Marido dedicado de Luísa, engenheiro de minas, homem prático e simples, que contrasta com a personalidade mundana e sedutora de Basílio.
Basílio: Dândi, conquistador e irresponsável, "bon vivant" pedante e cínico. Como todo dândi, Basílio procurava imitar um estilo de vida aristocrático, decadente. Tinha uma preocupação latente em estar bem vestido e arrumado.
Juliana: Personagem mais completa e acabada da obra, tem sido vista como o símbolo da amargura e do tédio em relação à profissão. Feia, virgem, solteirona, bastarda, é inconformada com sua situação e por isso odeia a tudo e a todos, principalmente seus patrões, não detendo então qualquer sentimento de fundo moral.
Sebastião: Personagem simpático que permanece fiel a Jorge e ao mesmo tempo ajuda Luísa. Sebastião é o único que não apresenta nenhuma crítica à socialidade lisboeta.
Julião: Parente distante de Jorge e amigo íntimo da casa, Julião Zuarte,assim como Juliana, representa o descontentamento e o tédio com a profissão. Estudava desesperadamente medicina, na esperança de conseguir uma clientela rica. Andando sempre sujo e desarrumado, Julião era invejoso e azedo.
Visconde Reinaldo: Amigo de Basílio, era, como este, um dândi. Desprezava Portugal. Reinaldo representa o pensamento aristocrático, o desprezo pelos valores burgueses, como a família e a virtude.
Dona Felicidade: Amiga de Luísa, cinquentona. Apaixonada perdidamente pelo Conselheiro Acácio. Simbolizava, nas palavras do próprio Eça: "a beatice parva de temperamento excitado".
Conselheiro Acácio: Antigo amigo do pai de Jorge, Acácio é o arquétipo do sujeito que só diz obviedades. Pudico, formal em qualquer atitude, rejeita friamente as investidas de Dona Felicidade. Diz a todos que "as neves que na fronte se acumulam terminam por cair no coração". No entanto, vive um romance secreto com sua criada.
Senhor Paula: Vizinho de Jorge. Junto com a carvoeira e a estanqueira, passa o dia bisbilhotando quem entra e quem sai da casa do "engenheiro". O surgimento de Basílio acaba virando um espetáculo para eles.
Leopoldina: Amiga de Luísa, casada e adúltera. Sempre em busca de novos prazeres e assim amantes, tem uma má reputação, e é uma possível influência para o comportamento de Luísa.
Ernestinho: Um homem baixinho da voz fina. É primo de Jorge. Seu sobrenome, Ledesma, dá-lhe um ar ridículo, de lesma pegajosa. É pequeno, pálido, romântico, escreve seguindo o interesse do público. A peça "Honra e Paixão", escrita por ele, é um dramalhão de caráter romântico. De vontade fraca, não tem estilo próprio.
Joana: Cozinheira da casa.
Castro: Tinha uma paixão platônica por Luísa.

Sobre o autor
Eça de Queirós
✩25 de Novembro de 1845
✞16 de Agosto de 1900 (55 anos)

José Maria de Eça de Queiro  foi um dos mais importantes escritores portugueses da história. Foi autor de romances de reconhecida importância, de Os Maias e O Crime do Padre Amaro; o primeiro é considera do por muitos o melhor romance realista português do século XIX. Eça de Queirós trabalhou como jornalista, como muitos autores do período, advogado e cônsul. Mas ficou mais conhecido pela atuação na literatura. Os textos do autor apresentam o nascimento do realismo português e são objeto de análise até hoje.

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